texto tirado do site do "Corvos MC"
“O incidente de Hollister e a formação dos Outlaw Motorcycle Clubs...”
O
período de formação parece alcançar seu auge com o incidente de
Hollister, Califórnia, em 4 de julho de 1947. Esse episódio, que foi
objetivo de reportagem pela Revista Life, misturado ao novo perfil dos
motociclistas foi a mistura ideal para que os moto clubes não ligados a
AMA emergissem.
Como declarado acima, apenas aos membros da AMA que
recebiam o certificado de moto clube era permitido competir. Sendo
assim, o mundo de competição era um fator de formação e difusão de moto
clubes. A AMA era responsável pela regras relativas aos seus membros, à
segurança das corridas, bem como pela imagem familiar que os eventos
necessitavam para venda de ingressos.
Aparentemente,
em 4 de julho de 2007 uma falha de organização ocorreu dentro da AMA e
deu causa a um pequeno incidente em Hollister, Califórnia. Neste fim de
semana em particular, ocorreu o encontro de vários clubes da
motocicleta, incluindo Pissed Off Bastards of Bloomington (POBOB) e os
Boozefighters Motorcycle Clubs, todos atraídos pelas corridas anuais que
a AMA promovia por todo os EUA. Como estes eventos eram considerados de
primeira linha, levavam uma legião de motociclistas, membros de moto
clubes ou não. Naquele dia uma mistura de álcool e adrenalina resultou
em incidente inusitado. Membros de moto clubes e não membros passaram a
competir nas ruas da cidade consumindo quantidades maciças de cerveja. A
algazarra produziu pequenos incidentes, entre eles dano ao patrimônio e
ultraje público ao pudor, mas nada parecido com “um cerco à cidade”,
como a revista Life noticiou.
A dúvida sobre o que realmente aconteceu em Hollister
reside no fato de que a maior parte das pessoas que viveram aquele final
de semana já faleceu. Na ausência de testemunha ocular, as opiniões se
tornam contestáveis e talvez a verdade nunca apareça. As reportagens da
época retratam Hollister como uma cidade tipicamente interiorana que foi
abalada pela chegada de motoqueiros arruaceiros que fizeram da cidade
um pandemônio, no entanto, há registros de que Hollister já havia
abrigado outras corridas de motociclietas, inclusive a própria Gypsy
Tour em 1936. Com isso, pode-se afirmar que a cidade calma que as
reportagens apregoavam não é verdadeira e deve ser descartada como fonte
primária. É certo que uma verdade aconteceu em Hollister, a sua
incapacidade de abrigar a legião de motociclistas que se dirigiram
àquela cidade em 1997 para comemorar o aniversário de 50 anos do
incidente.
“Explicando o incidente de Hollister...”
O
mito de 4 de julho de 1947 em Hollister pode ser atribuído a único
fato. De acordo com alguns relatos, Barney Peterson, um fotógrafo do San
Francisco Chronicle, publicou a foto de um motociclista bêbedo
equilibrando-se precariamente sobre uma motocicleta Harley-Davidson,
cercado por cascos de cerveja quebrados,segurando uma cerveja em cada
mão com a seguinte manchete:
“E ASSIM A AMÉRICA” (and thus, America’s). O San Francisco.
Chronicle exagerou na licença literária para o relato do
caso. Resumindo, o artigo afirmava que motociclistas
realizavam competições em todas as ruas, assim como andavam com suas
motocicletas dentro de bares e restaurantes. Para descrever este
episódio a revista utilizou palavras como “terrorismo” e “pandemônio”.
Também afirmavam que as mulheres que acompanhavam os
motociclistas eram qualquer coisa, menos senhoritas americanas.
O artigo serviu para insuflar os ânimos na região e logo
apareceram os primeiros desentendimentos com resultado morte.
A revista Life, em 21 de julho de 1947, aproveitando o
momento, publicou um artigo usando a mesma foto do motociclista bêbado
com o seguinte título: “Ele e os seus amigos aterrorizam a cidade” (Cyclist’s Holiday: He and Friends Terrorize Town). O
artigo afirma que quatro mil membros de um moto clube eram responsáveis
pelo tumulto. Sabemos que foi um exagero espetacular. De acordo com a
maioria das estimativas nenhum moto clube pode se vangloriar de ter
conseguido juntar, pelo menos, a metade desse número, ainda mais naquela
época.
“A origem dos Moto Clubes 1% e outras mumunhas mais... ”
O
artigo com meras 115 palavras colocado logo abaixo de uma imagem
gigantesca de um motociclista aparentemente bêbedo causou tumulto por
todo país. Alguns autores afirmaram que o AMA liberou para imprensa uma
nota que desmentia a sua participação no evento de Hollister e indicava
que 99% dos motociclistas eram pessoas de bem, cidadãos cumpridores da
lei, e que os clubes de motociclistas da AMA não estiveram envolvidos na
baderna. Entretanto, a associação americana do motociclista não tem
nenhum registro de tal nota. Tom Lindsay, diretor da informação pública
do AMA, em nota declarou que “nós [AMA] reconhecemos que o termo 1% há
muito tempo é atribuído a AMA (e provavelmente continuará a ser), mas em
nenhum momento conseguimos identificar em nossos registros esta citação
ou a indicação de que a AMA tenha publicado, por isso acreditamos que
sua criação seja apócrifa.”
A revista Life publicou comentário de pelo menos de três
pessoas, um delas era Paul Brokaw, um editor proeminente de um periódico
chamado Motorcyclist. Brokaw castigou a Revista Life considerando a
imagem publicada totalmente descabida.
Parece prudente fornecer o teor inteiro da mensagem de Brokaw, ao editor da Life:
Senhores,
As
palavras mal servem para expressar meu choque em descobrir que o
retrato do motociclista [veja The Life julho 21, 1947:31] foi obviamente
preparado e publicado por um fotógrafo interesseiro e sem escrúpulos.
Nós
reconhecemos, lamentavelmente, que houve uma desordem em Hollister -
não ato de 4.000 motociclistas, mas de um por cento desse número,
ajudada por um grupo de não motociclistas e apostadores. Nós, de forma
alguma, estamos defendendo os culpados - de fato é necessária uma ação
drástica para evitar o retorno de tais comportamentos.
Entretanto,
vocês devem entender que a apresentação dessa foto macula,
inevitavelmente, o caráter de 10.000 homens e mulheres inocentes,
respeitáveis, cumpridores das leis e que são os representantes
verdadeiros de um esporte admirável.
Paul Brokaw
Editor, Motorcyclist
Los Angeles, Calf.
Na
carta acima, Brokaw indica claramente que os acontecimentos ocorridos
em Hollister têm como origem pessoas anônimas. É importante frisar que
Brokaw não indica quem são essas pessoas, mas de certa forma fala em
nome da AMA. Interessante, Brokaw declara que nenhuma ilegalidade
ocorridas em Hollister foi realizado pelos 4.000 motociclista, “mas um
por cento desse número.” Parece lógico, na ausência de uma nota real da
AMA sobre o assunto, que esta carta tenha sido a origem do termo “um por
cento.”
Uma outra carta publicada na mesma edição da Life, escrita
por Charles A. Addams, define como sendo ilusória a idéia de que a
metade da população do motociclista de Hollister eram membros da AMA. De
acordo com Addams, “os quatro mil ‘motociclistas’ não eram todos os
membros de um clube. Da AMA estavam presentes aproximadamente 50% do
total e os outros 50% era motociclistas comuns que estavam aproveitando
os três dias de feriado. Apenas cerca de 500 ‘motociclistas' eram os
responsáveis pelo desastroso evento de Hollister.” Quando combinadas, as
cartas de Addams e Brokaw explicam o motivo que muitos afirmam que a
AMA seja a dona da afirmação “um por cento”. Em carta a revista Life,
Addams estabelece a possibilidade de uma considerável presença da AMA no
evento e Brokaw parece estar falando em nome de uma organização em que o
motociclismo é um estilo de vida. Assim, parece lógico concluir que
estas duas cartas ao editor da revista Life sejam a origens do mito “um
por cento” e da condenação da AMA. Observe que Brokaw, em sua carta, não
fala claramente em nome de do AMA, mas ao longo do tempo as pessoas
passaram a interpretar como tal.
Enquanto os motociclistas comuns e as moto-organizações
estavam tentando se distanciar do ocorrido em Hollister, clubes tais
como o Boozefighters buscaram se enquadrar a ele. Assim, temos que o
evento de Hollister de 1947 foi o fomento que falta para a consolidação
dos moto clubes não alinhados a AMA, ou seja, os “Outlaw Motorcycle
Clubs”. Deve-se deixar claro que estes clubes nunca pertenceram a AMA,
logo não foram banidos ou coisa parecida.